Opinião: A hora do pato

Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

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Não é novidade para ninguém que o alto comando do Exército Brasileiro, composto atualmente por cerca de 15 generais de 4 estrelas, anda preocupado com forma como o governo Bolsonaro tem exposto os militares, submetendo-os a situações desagradáveis e totalmente desnecessárias, que não apenas fogem às suas obrigações, como também transgridem normas do próprio código de conduta da instituição. À medida que a CPI da COVID-19 avança, ficam cada vez mais evidentes as omissões, atecnias e ingerências do general da ativa, Eduardo Pazuello à frente do Ministério da Saúde. Seu depoimento na comissão de inquérito está repleto de inconsistências e falácias protegidas por um Habeas Corpus, e desmascaradas por e-mails e ofícios documentados, nas quais suas decisões, ou mesmo a falta delas, estão registradas e trazem à luz a “verdadeira verdade”, quando contrastadas ao depoimento do presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, e ao do diretor do Instituto Butantã,  Dimas Covas que disse à CPI: “Pazuello acatou a ordem do presidente e cancelou a compra de 100 milhões de dozes da vacina Coronavac, o que poderia imunizar cerva de 50% da população brasileira”. Diz o provérbio popular que, “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.

 

Em 14 de novembro de 2020, no jornal El país, em um artigo assinado por Afonso Benites, o vice-presidente da república, Hamilton Mourão, endossa a fala do general Pujol que diz, “Não admitimos política nos quartéis”, e completou, a instituição pertence ao Estado, não ao Governo. “Não somos instituição de governo, não temos partido. Nosso partido é o Brasil. Independente de mudanças ou permanências em determinado governo por um período longo, as Forças Armadas cuidam do país, da nação. Elas são instituições de Estado, permanentes. Não mudamos a cada quatro anos a nossa maneira de pensar e como cumprir nossas missões."  Entretanto, o chefe do executivo insiste na permanência de membros da corporação em sua cúpula de governo; não satisfeito, no dia 23 de maio, domingo, Pazuello discursou ao lado do presidente Jair Bolsonaro em um carro de som, causando aglomerações entre os seus seguidores e, sobretudo grande desconforto junto aos membros do alto comando militar, que defende uma punição ao ex-ministro da saúde conforme prevê o Regulamento Disciplinar do Exército, no caso  de militar da ativa que "manifeste-se, publicamente, sem que esteja previamente autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária. Se não bastassem a carreira pífia e marcada por insubordinações contra o próprio Exército que o ex-tenente acumula em seu currículo, os mandatos insipientes como deputado federal, a gestão desastrosa do país e da própria pandemia, o “imbrochável” está brochando a biografia, até então ilibada, do general Eduardo Pazuello. Há um jargão militar que diz “Abaixo de mim eu trolho e acima de mim eu pondero”, somente no Brasil um capitão da reserva trolha um general da ativa e este consente cegamente. Deve também ser inédito um militar desta patente, nesta altura do campeonato, ir para hora do pato. Como dizem por lá: o safo sifu.

Michel FrançaPor Michel M. França
Professor, escritor e publicitário. Doutor em Letras pela USP,Mestre em Linguística Aplicada pela PUC-SP onde atua como professor convidado na extensão e pós-graduação. Graduado em Letras pela FATEMA e Marketing pela FECAF.